Definitivamente, parece que a Organização Mundial da Saúde não estava exagerando quando declarou o Zika vírus uma emergência de saúde pública. O vírus tomou conta da América Latina e do Caribe, e o efeito do zika no desenvolvimento de fetos de mulheres que contraem o vírus está se mostrando devastador. As mulheres grávidas nesses países - e principalmente no Brasil - estão dando à luz um número incomumente alto de bebês nascidos com microcefalia grave, um defeito de nascença que compromete o crescimento do cérebro e resulta em uma cabeça anormalmente pequena. Evidências médicas sugerindo que esses bebês serão profundamente incapacitados levaram alguns pais a tentar interromper a gravidez após um diagnóstico de zika. Mas as mulheres no Brasil podem abortar por causa da ameaça do zika? A resposta curta é não - e as implicações dessa realidade estão tendo um efeito enorme.
Segundo o Think Progress, acredita-se que mais de 4.000 mulheres no Brasil tenham dado à luz bebês com microcefalia causada pelo vírus zika. À medida que aumentam as preocupações com o zika, e mais conhecimento sobre os riscos para os bebês ainda não nascidos, mais e mais mulheres tentam encontrar maneiras de contornar as rigorosas leis de aborto do Brasil, o que torna ilegal a realização e o aborto nos conservadores católicos. país. De acordo com a TIME, “as mulheres que consentem em um aborto ou abortam-se entre um e três anos de prisão”, a menos que cumpram os três critérios para o aborto legal: gravidez como resultado de estupro, gravidez em que a vida da mãe está em risco ou gravidezes em que a criança não sobreviverá. Como resultado, de acordo com a Think Progress, uma ONG internacional chamada Women on Web enviava pílulas de aborto gratuitas para mulheres no Brasil que as contataram em busca de ajuda, mas as autoridades do governo começaram a confiscar todos os envios do medicamento, deixando as gestantes sem qualquer segurança. opção para interromper a gravidez.
Os partidários pró-vida no Brasil (que, como observou a TIME, é na verdade a maioria do país) argumentam que os bebês nascidos com microcefalia devem ter o mesmo direito à vida que todas as pessoas no país são garantidas pela constituição brasileira e que terminam uma gravidez por causa da microcefalia é um insulto a todos que nasceram com a doença, já que muitas pessoas com microcefalia têm uma qualidade de vida razoavelmente alta. Simone Tavares, mãe de dois filhos que nasceram com microcefalia e agora são para-atletas, é um dos apoiadores que se manifestaram contra a pressão por abortos legalizados, dizendo ao Motherboard:
… todo mundo tem o direito de nascer, todo mundo tem sua missão e precisa passar por certos entendimentos, independentemente da deficiência.
A dificuldade com a microcefalia relacionada ao zika, porém, é que é muito mais grave do que o que os médicos costumam ver em bebês nascidos nos casos habituais em que os bebês desenvolvem microcefalia como resultado de uma condição genética ou de coisas como falta de oxigênio no útero ou uso de drogas e álcool. De acordo com o Washington Post, os efeitos da microcefalia normalmente atingem um espectro, onde algumas crianças são pouco afetadas e outras - normalmente cerca de 10% - têm comprometimento grave e precisam de cuidados constantes. O que os médicos no Brasil estão descobrindo, no entanto, é que os bebês com microcefalia suspeita do vírus Zika estão quase sempre no extremo mais grave do espectro, com diferentes anormalidades cerebrais que geralmente não estão presentes, de acordo com a NPR. O Dr. João Ricardo de Almeida disse à NPR que os bebês que ele viu “não serão funcionais. Eles precisarão de cuidados pelo resto de suas vidas."
Então, o que as mulheres no Brasil deixam de fazer ao fazer um aborto podem prendê-lo na prisão, e a alfândega se recusa a permitir que suas pílulas de aborto atravessem a fronteira? A resposta em muitos casos, de acordo com o Think Progress, é que eles estão recorrendo a abortos inseguros, nas ruas, pílulas do mercado negro ou abortos auto-induzidos - todos os quais apresentam sérios riscos à saúde. Isso é especialmente verdade para aqueles que vivem na pobreza, que não têm outras opções disponíveis, como pagar milhares de dólares por abortos ainda ilegais, mas seguros, de médicos dispostos a correr o risco. Também é muito caro (nos padrões da América do Sul) enviar remédios contra o aborto da Women on Web para outro país onde o aborto é legal.
As conseqüências, é claro, podem ser fatais. Como Sonia Coelho, porta-voz da Campanha Nacional pela Legalização do Aborto, disse ao Los Angeles Times:
Temos uma situação aqui no Brasil em que as mulheres estão fazendo abortos clandestinos e em que as mulheres estão morrendo. Isso traz consequências … principalmente para mulheres mais pobres e negras, que não têm meios para fazer um aborto em um lugar mais seguro.Mario Tama / Getty Images Notícias / Getty Images
Infelizmente, não apenas parece que o aborto nos casos de microcefalia relacionada ao zika se tornará legal em breve, como também pode ser ainda mais difícil de obter. Segundo o TIME, os legisladores no Brasil redigiram uma nova lei que aumenta a pena de prisão mínima para as mulheres que abortam a gravidez, bem como para os médicos que realizam abortos.
Em vez disso, o governo está endossando a abstinência - especificamente, adiando a gravidez até 2018, de acordo com a Motherboard. Mas, embora na teoria esse plano incrivelmente problemático seja uma solução (se você não engravidar, acho que não precisaria de um aborto), a realidade é que, bem, a abstinência nunca foi exatamente eficaz método contraceptivo. E como ainda não existe uma maneira eficaz de interromper a transmissão do vírus, isso significa que as mulheres no Brasil ficam com muito pouco quando se trata de respostas ou apoio.
Em outras palavras, quando se trata de zika, ninguém vence.